POESIAS EM FOCO

terça-feira, 29 de março de 2011

O BOI ZEBU E AS FORMIGAS



Um boi zebu certa vez
Moiadinho de suó,
Querem saber o que ele fez
Temendo o calor do só
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.

Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
Suas foia carregando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com mais ninguém
Se ninguém mexe com ela.

Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começou a se açanhá
E foro se reunindo
Nas pernas do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra de nada senti.

Mas porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiado
O zebu foi se zangando
E os cascos no chão batia
Ma porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.

Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais força incorporava,
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
Vamo minhas camarada
Acaba com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somos muitos miêro
E este zebu é só um.

Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada um tem seu direito
Até nas leis da natura.

As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.


Do livro Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré

quinta-feira, 24 de março de 2011

VELHICE



No meu espaço de tudo eu
faço, nada disfarço; sigo
adiante no meu compasso

Vivo o tempo que me é
escassos; encarquilhado
e em trémulos passos.

A vida muito me deu espaço,
E hoje tateio sem largos passos
***
 
Ps. um Hindriso que  retrata um pouco da velhice,


segunda-feira, 21 de março de 2011

SENHORA SAUDADE



No frio palco da minha vida, ela
Vem as minhas utopias furtar;
Veste-se de saturnas esperanças,
Invade as persianas da minha janela
E no meu quarto adentra sem pedir licença

E ali faz iludir uma alma que clama,
Que chora por histórias vividas,
Dramas, romances, paixões perdidas .
Uma porta aberta de ilusões,
Sem saber se é pra rir ou chorar.

Ah, senhora saudade...
Maldita és a maquiagem que teu rosto disfarça,
Maldita és as tuas mãos frias, que descomunal
Perpassa meus dias, maldita é a tua boca,
Que faz definhar um corpo, que quer de ti se afastar .

quarta-feira, 16 de março de 2011

DELÍRIOS NOTURNOS



***

No açoite dos teus cabelos,
Galgo as noites em desesperos.
Pardos lábios envenenam- me
A alma , e feito lobo faminto
Uivo seco; a seca voz.

Sinto tuas mão preguiçosas,
Dedilharem suavemente
O meu pecado inconstante,
Onde tua efémera voz se faz
Verbo em meus avitos delírio.

Sinto no meu corpo o morder
Trincado dos teus lábios,
Fazendo-me despertar, eriçando
Minha pele pedinte...

E adornado pela tua ausência
Minha noite se faz criança,
A lambuzar-se no pecado da
Carne, que a sós, brame em ais.


***













terça-feira, 15 de março de 2011

INVERNO NO SERTÃO



***

No verde da grande mata
Canta livre o sanhaçu,
O lírio namora a rosa
Muge longe o boi zebu,
Voa errante o tetéu
Coaxa o cururu

Corre as águas nos lajedos
E o rio faz transbordar,
Canta o canário – rasteiro
Com sei fino titilar
Festejando um ninho novo
Pra suas proles criar

Rumina a vaca mimosa
Pari a ovelha *andarun
Canta o galo no terreiro,
Desperta a amplidão azul,
Rumina o *burro iletrado
Fulora* o mandacaru

O teiú foge da toca pra o
Formigueiro ocupar,
A abelha furta da rosa o
O seu doce néctar,
Corre livre a pororoca
Pra com o mar se encontrar

O feijão brota viçoso
Festeja todo sertão
É fartura com certeza
Diz o roceiro em oração,
agradecendo postado
Ao pai de toda nação.

***

segunda-feira, 14 de março de 2011

CASTOS LÁBIOS




***

Castos lábios, que delatam meus desejos,
Que profanam minhas noites
Que dilaceram meu corpo,
Que suavizam minha gana

Castos, que deleitam-se à beira do pecado,
Que bebem preguiçosamente meus vícios
Que decantam minhas angústias,
Que fazem fremir o viril...

Castos e nacarados, és o pecado da carne;
Da carne és o rito, a bailar ovacionado
Pelos os meus desejos carnais...

Castos lábios, que inquietos visitam minhas noites,
Que bailam em minha boca,
Que suculentos arraigam-se no tempo.

***

sexta-feira, 4 de março de 2011

A MORTE


Deixarei minha matéria aos germes,
e meu espirito impuro tacteará
na imensidão do obscuro;

E as verdades a mim nunca ditas
tornaram-se verdades vivas, sem
palavras incutidas,

Que quando as pálpebras cerradas

Faz-se certezas explícitas.


***

PS. Um INDRISO, que relata um pouco dos  segredos da morte 

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/vantuilog69