POESIAS EM FOCO

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PEREGRINOS SONHOS



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Quando a noite vai agonizando,
E frias ânsias faz-me delirar,
Vejo teu rosto suave e constante
Em devaneios meu quarto adentrar.

Chegas maneira como pluma livre,
E o meu corpo tenta fustigar,
Com os teus lábios vadios e dementes
Faz minha noite terno deleitar

Tuas volúpias vagueiam em prantos,
E a sua pele torna-se vicejar,
E a minha gana esquece o passado,
E regozija no teu cavalgar.


***

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ALVISSEIRA PELE



Guardo nítido na memória, sua pele
Alvisseira a banhar-me em noites
Frias, a deleitar-se em meus sonhos,
A fremir-me em toques de esperanças.

Guado do teu corpo o olor suave de
Relva doce, a extasiar minh'alma,
A arraigar-se em meus beijos,
A profanar meu corpo.

Guardo; sei que guardo no frio fundo
De reticentes sonhos, promessas
Banhadas de sinceridades que
O tempo dilacerou de nós...

Guardo de ti; um pouco de mulher,
O tudo da razão,
Uma infindas fantasias,
Um fanal na escuridão de minhas esperas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CONTROVÉRSIAS






***

Metade minha fala de saudades,
Outra metade fala de amor,
O meu versejo encobre inconstante
O que o espírito decanta sem cor.

Metade minha esboça sorrisos
Outra metade prende-se de paixão,
Uma suspira. a outra lamúria,
Uma é dúvida, a outra exatidão.

Uma metade respira agruras,
Outra metade é soberbo viver ,
Uma é baixeza a outra é ápice
Uma é avidez, a outra o aquecer .

Metade clama teu nome em brados,
Outra metade cala-se no querer;
Uma espera, a outra desespera,
Uma é vida a outra o fenecer.


***

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO




***

Ao dobre do sino, Ave-Maria...
Carpiam Dasdores e Luzias, velando
O horizonte caído, sugando aos pés
Da cruz Mormaços das serranias.

Ao dobre do sino, Ave-Maria...
Em noites tardias, ouvia- se o
Choro inane dos Zacarias, dos
Tomés e azarias; senhores da fome.

Ao dobre do sino, Ave -Maria...
Via -se ao longe a boca escancarada
e fétida da fome, clamando
socorro aos senhoris da chibata.

Ao dobre do sino, Ave-Maria...
Ouvia-se os tamborins em alto-brado,
Onde senhoris ditavam ordens a
Farrapos enclausurados.

Ao dobre do sino, Ave-Maria...
Ainda ouve-se em Nossos dias, vozes secas
Que serpenteiam as moradias, onde fantasmagorias
Delatam a insensatez do Homem.



***


PS. inspirada na seca de 1931, que ocorreu nos sertões Nordestino,
Onde morreram centenas de pessoas de fome, por cólera, e por maus- tratos em
um CAMPO DE CONCENTRAÇÃO, na cidade de Senador Pompeu-CE.







quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

FINDOS DIAS



Venho de estradas de mui atropelos,
Trago no rosto magoas escorridas,
Vejo meus pés frios e encarquilhados,
E no meu proscénio desejos moídos.

Minha bagagem e crua e severa,
Feita de agruras e amores profanos,
De turvas glórias e gostos encerrados,
De frias noites e muitos desenganos

Trago no peito tardias quimeras,
Na vil lembrança um seio a soluçar,
Nos dias lúgubres trago a esperança,
Nos findos dias ao eterno chegar.