POESIAS EM FOCO

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O CONTO DO CANTO

A Cigarra coitadinha vivia sempre a
cantar, esperando a chegada de quem
prometeu voltar, e assim uma melodia
danava a égua a ensaiar.

Todas as noites a bichinha ficava
a cantarolar, com os olhos
rasos d'água no velho banjo a ensaiar,
o canto que ela ia ao noivo presentear.

E assim a pobre moça tristes anos
viu passar, dedilhando dia-a-dia o
velho banjo ao l uar, mas seu noivo
pretendente nem um sinal vinha dar...

-Se foram dias e anos e a cigarrara
a ensaiar sempre a mesma melodia
no costumeiro lugar com
a firme esperança do amado retornar;

Os anos foram cruéis e a velhice veio
chegar, a coitada da cigarra
desaprendeu banjular, com a chegada do
noivo já não mais soube cantar...

Por isso é que diz; o ditado popular, que
o tempo “corre frouxo” besteira é desperdiçar
Nosso tempinho sagrado com quem
tarde irá chegar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

____ COISAS DA ROÇA____


Foto em tela e óleo - Luzia santos




Eu nasci lá no sertão não conheço
O litoral,já vesti forte gibão
Da fazenda fui peão, amolei faca
E facão tirei leite no curral.

Eu nasci nas serranias conheço
O mandacaru, já capinei de
Enxada puxei boi nas vaquejadas
Cacei preá e tatu...

Sou filho do ressequido e suarento
Torrão, sou canto triste da terra sou o
Barulho do trovão, sou cachorro
perdigueiro, sou ave de arribação;

Sou o coaxar do sapo no acasalo final,
Sou choro inane da terra, sou duas pedras
De sal que testa com veemência
Se tem inverno afinal...

Sou a cigarra alegre na árvore a
Cantarolar, sou o zarpar do burro que
Não se deixa amansar; sou o choro
Do caboclo por quem prometeu voltar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DESABAFO

Vivo num mundo de desejos insanos,
Onde a esperança pari incertezas, onde
As Verdades titubeiam ao toque *cobarde
Do medo, onde minha língua profana
Delata os meus semelhante.

Vivo num mundo onde a tarjar da injustiça
Semeia a discórdia entre os Homens,
Onde busca-se o tudo num mundo do nada,
Onde minha boca mergulha num
abissal desejo de falar sobre a paz.

Vivo num mundo onde a esperança dorme
No berço da incerteza, onde meu grito
Se torna mudo aos ouvidos dos que
De uma geração se faz dono, onde não sei
Conjugar o verbo amar...

Vivo num mundo onde a miséria é um simples
Brinquedo da mídia, onde minhas
Verdades vivem enclausuradas na farsa
Da justiça que jaz ao toque do dinheiro.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

__TUDO QUE PRECISO__

Você e tudo que preciso, a ternura que
Em meu peito habita, a esperança a engatinhar
Em meus dias de temores, um cântico a
Bailar nos meus ouvidos a convidar-me
Ao pecado constante.
Você é a melodia plangente que em meu
Peito arde, a fome e a fartura que
latente esconde-se na distancia dos dias
Meus, o sorriso que dorme a espera
De um sinal..
Você é o ápice dos meus ternos desejos,
O abissal que vagueia nos meus
Furtivos sonhos, o arraigar
Dos dias meus.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

FADO

Sinto-me como um altaneiro pássaro
A sobrevoar a imensidão dos céus
Migrando em busca de um oásis perdido,
E envolvido em turbilhoes de ventos e
Remoinhos fuscos sigo minha sina
Incansável.

Sinto-me uma ave sem ninho que anseia
Pousar em um ramo pra se refazer do
Fado, e sem siso esquece do perigo
Da mão humana.

Sinto -me um menestrel sem rimas e sem
Acordes, uma melodia vestida de
Langores onde um abissal desespero
Perpassa minh'alma atordoando meus
Funestos dias.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ESPERAS

Sinto vontade de gritar teu nome,
De dizer que nunca te esqueci, de
Vislumbrar teus olhos faceiros e tristes
A esperar-me em noites frias.

Sinto vontade de navegar nos teus
Pensamentos, de sentir na essência
De minh' alma o adocicado olor do
Teu perfume a embriagar-me de desejos.

Sinto vontade de falar dos meus medos, das
minhas covardias, das promessas nunca
Realizadas, das noites mal dormidas
A vigiar-te em meus pensamentos; falar-te
Do amor que ainda arde em meu peito.

Sinto, ah! Como sinto... sinto vontade
De dizer-te que nunca fui fruto da tua
Imaginação, que sempre estive contigo,
E que o destino cruel assim quis; Eu Sol,
Você Lua, Sem aproximação ou toques.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

----- DENSOS SONHOS-----

Como densa nuvem viajante em
Noites frias tu visitá-me, deixando
Impregnado em meus lenções o
Doce olor da esperança.

Como nuvem densa que nos céus
Habita, tu chegas sorrateira como
Livido anoitecer atordoando meu
Sono com seus toques sussurrantes...

E assim passas qual névoa branda
Em minhas noites de insanos sonhos
Dilacera um coração que em desespero
Espera sem cessar um toque
Real dos lábios teus.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

___ COISAS DO SERTÃO___




Limpei a relva da roça
Rocei o mato grosseiro
Encabei a minha enxada
Amansei burro matreiro.

Colhi o favo da terra,
Botei na porta tramela
Tombei a terra com trado
Beijei a moça banguela.

Corri na mata perdido
No meu cavalo azulão, cavei
A cova na terra vi germinar
Farto pão.

Afiei o meu facão, ensebei meu
Cinturão feitinho de couro cru,
Pus meu alforge de lado montei
Meu cavalo alado vim a procura de tu.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

PRESA

Quero ser a sua presa sem lamuria
Ou defesa em suas garras ficar, em
Teu pejo de menina ser o manjar que
Sacia seu apetite de amar.

Quero ser seu alimento a gana
De cada dia, teu afã é companhia
O terno gesto de amar, quero ser
Seu acalento seu intenso acasalar .

Quero ser a sua orgia, o seu pão de cada
Dia, o vinho que inebria, o seu corpo a
Baloiçar, quero ser o teu aferro o seu manar
De desejos o eterno preludiar...

Quero ser sua quimera, o lume e a
Primavera a rima do versejar, ser tua
Trova maviosa, tua boca sequiosa um
Leme a te guiar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

__ SORRISO ABERTO__

Esse teu sorriso aberto inebria a
Alvorada, faz o fusco ficar claro
Diminui a longa estrada, faz germinar
A esperança é abraço na chegada.

Ele é o eflúvio do amor a voar pela
Amplidão, é sano toque na alma dos
Que vivem na ilusão, é aura doce, e
Divina é a espera em comunhão.

Esse teu sorriso aberto transmite luz
E calor, é a vívida cor do pejo, é o
Grito sem ter dor é o fino doce do
Mel; o enobrecer do amor.

Ele é toque de ternura toda beleza
Que há, é a candura fremente em meu
Peito a clamar, é prelúdio em serenata
É o meu terno versejar.

***
Vantuilo Gonçalves